'Quero explorar as palavras em diversas plataformas', diz Arnaldo Antunes

Arnaldo Antunes atendeu à reportagem do "Guia", por telefone, enquanto montava sua exposição "Palavra em Movimento" ao lado do curador Daniel Rangel. A mostra fica em cartaz a partir de 11/7 no Centro Cultural Correios São Paulo, na região central da capital paulista.

Ele acabara de retornar da Flip (Festa Nacional Literária de Paraty) e se preparava para, no dia seguinte, ir ao Rio de Janeiro continuar as gravações de seu novo CD —que ainda não tem nome, mas deve ficar pronto em setembro. Fora isso, o músico e poeta lançou em junho o livro "Agora Aqui Ninguém Precisa de Si", com poemas inéditos escritos nos últimos cinco anos e projeto gráfico assinado por ele.

Crédito: Eduardo Anizelli/Folhapress Retrato do cantor Arnaldo Antunes, em sua casa no Alto de Pinheiros, em São Paulo
Retrato do cantor Arnaldo Antunes, em sua casa no Alto de Pinheiros, em São Paulo

Acostumado a "brincar" com as palavras em diferentes plataformas, a mostra "Palavra em Movimento" reúne um pouco da pluralidade de Antunes no trato com a palavra em sua obra no campo das artes visuais durante os últimos trinta anos.

Há, por exemplo, a série Caligrafias, com monotipias elaboradas com tinta de carimbo entre 1998 e 2003, nas quais Antunes pintou seus poemas. Já Oráculo é a coleção mais antiga da mostra —1981 e 1982. Ela consiste num conjunto de colagens e sobreposições de imagens, letras e palavras recortadas de revistas e jornais da época.

Em o Interno Exterior, trabalho realizado pelo artista em 2014 —é o mais recente—, um mosaico de monitores digitais servem de suporte para poemas, inspirados no cotidiano e estruturados a partir de leituras simultâneas de textos urbanos capturados em fotos de suas viagens, animadas em stop motion.

"É um vocabulário para expressar questões interiores com uma linguagem tirada de coisas da rua. A obra trabalha a simultaneidade de várias camadas de sentido acontecendo ao mesmo tempo", comenta Antunes.

A seguir, confira entrevista com o compositor, poeta e artista visual Arnaldo Antunes.


"Guia" - Você transita em vários campos, como o da música, da poesia e das artes visuais. Em seu processo de criação, você já pensa num formato específico ou a coisa diz como quer sair?
Arnaldo Antunes - Normalmente já vem com o destino que vai ter: se é para ser um objeto para ser visto, se é uma ideia que vai se realizar na página do papel. Mas também há exceções. Como a palavra faz parte desses territórios pelos quais transito, cada vez mais eu vou juntando essas diferentes linguagens e trazendo informações de uma área para outra. Algo que já publiquei, por exemplo, pode virar uma canção.

A mostra reúne caligrafias, colagens e instalações elaboradas por você nos últimos trinta anos. Nesse período, o que mudou em seu trato artístico com a palavra?
Difícil avaliar porque tenho uma visão muito de dentro. Mas prezo pelo lúdico da linguagem: desejo brincar com ela e explorar seus limites nesse namoro com diferentes suportes —caligrafia, colagem, poemas-objetos. Tem uma relação com a significação poética.

Dos trabalhos escolhidos, havia algum que você relutou a querer mostrar?
Os mais antigos, por estarem distantes por conta do tempo. Mas encontrei uma coerência. O "Oráculo", por exemplo, é inédito.

Quais inquietações guiaram os poemas contidos em "Agora Aqui Ninguém Precisa de Si", que você acabou de lançar?
Tem uma variedade de temas, há um humor e um amargor. O nascimento e a morte são temas recorrentes, mas há um poema, por exemplo, em que falo das formigas. Não há um eixo. O livro também tem uma materialidade gráfica da poesia, que em alguns casos tem seu sentido feito nessa relação entre verbo e imagem, de visualidade.

Na Flip você comentou que "A poesia é a alternativa a esse mundo terrível em que todos vivemos". Em que sentido?
Acho que a poesia é uma alternativa. Ela consegue te trazer para outra dimensão, de uma surpresa e de um estranhamento. A poesia consegue resistir ao mundo estandardizado.

Palavra em Movimento - av. São João, Anhangabaú, região central, tel. 3227-9461. Ter. a dom.: 11h às 17h. Abertura 11/7, às 12h. Até 30/8. Livre. Visita monitorada p/ 5083-4360. GRÁTIS

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