Seis curtas-metragens e cerca de 200 outras obras audiovisuais estão expostas no sétimo e oitavo andares do Instituto Moreira Salles, em São Paulo. A mostra "Xingu: Contatos" busca contar a história daquele território no Centro-Oeste pela visão de indígenas das 16 etnias que vivem nele.
A ideia da mostra começou com uma parceria entre o cineasta Takumã Kuikuro e o jornalista Guilherme Freitas, que assinam a curadoria da exposição. Em 2021, quando a demarcação do Parque Indígena do Xingu completou 60 anos, os dois gravaram o podcast "Xingu: Terra Marcada" para a rádio do IMS.
Na exposição que está em cartaz, os dois convidaram diretores e coletivos audiovisuais do território do Xingu que produziram os filmes que são exibidos em telas suspensas no sétimo andar do prédio. Os temas das produções são diversos. O Coletivo Kuikuro de Cinema, de que Takumã faz parte, por exemplo, fala das duas décadas em que tem atuado no território usando o cinema como ferramenta de luta.
Já o filme produzido por Divino Tserewahú, um dos pioneiros do cinema indígena no Brasil, reúne depoimentos sobre o papel do audiovisual na cultura xavante.
No mesmo andar, também estão reunidas obras que contam a visão de povos indígenas sobre o território e mostram a forma como eles escolhem se representar. Em contraponto, o oitavo andar abriga o material histórico majoritariamente produzido por pessoas não indígenas a respeito dessas populações.
Para Takumã Kuikuro, o diferencial da mostra é o fato de ela ter sido criada e pensada em conjunto com os indígenas. "Não é o olhar do branco, como já aconteceu em muitas exposições", afirma. Mesmo no caso dos arquivos de não indígenas, existe o contraponto de como determinadas situações registradas foram interpretadas pelas populações originárias.
Durante a curadoria, a dupla se deparou com arquivos produzidos por não indígenas que não contavam com a devida identificação. Para incluí-los na mostra, foi feito um trabalho na tentativa de localizar as pessoas registradas em fotos e incluir novas legendas nas obras.
Lado a lado estão a legenda original, catalogada pelo autor não indígena da fotografia, e a nova descrição, que leva o nome da pessoa fotografada. Um exemplo é a imagem de Utebrewe Xavante, que originalmente levava a legenda "índio xavante", sem o nome do homem que é uma importante liderança da etnia.
Durante o trabalho de identificação dos arquivos, Freitas conta que, ao levar as fotos para os povos retratados, notou que, em muitos casos, eles nem conheciam as imagens. A ideia que teve, então, foi rever o acervo em conjunto com os povos originários para mostrar o que faltava na história contada apenas pelos não indígenas.
A palavra que compõe o título da exposição, "contatos", representa a tentativa de refazer o contato entre indígenas e não indígenas. Takumã defende que esse momento de interação acontece todos os dias e tem sido cada vez mais violento em relação aos povos indígenas.
A forma de defesa encontrada pelo diretor em 2002, quando ainda não falava português, foi representar sua realidade e a forma de ver o mundo pelo audiovisual. Ele conta que a ONG Vídeo nas Aldeias proporcionou seu primeiro contato com a câmera, objeto que ele considera a "flecha dessa jornada", como diz a frase que estampa a camiseta usada por ele durante a entrevista.
"Nossa luta através da exposição, através do audiovisual é trazer essa realidade para o povo que não conhece as nossas histórias. Queremos ser protagonistas da nossa própria história", diz Takumã.
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