Exposição 'Xingu: Contatos' usa o audiovisual indígena para contar história do território

Mostra reúne seis curtas-metragens e cerca de 200 outras obras no Instituto Moreira Salles

São Paulo

Seis curtas-metragens e cerca de 200 outras obras audiovisuais estão expostas no sétimo e oitavo andares do Instituto Moreira Salles, em São Paulo. A mostra "Xingu: Contatos" busca contar a história daquele território no Centro-Oeste pela visão de indígenas das 16 etnias que vivem nele.

Kainahu Kuikuro, integrante do Coletivo Kuikuro de Cinema, no ritual do Kuarup na aldeia Afukuri, julho de 2021
Kainahu Kuikuro, integrante do Coletivo Kuikuro de Cinema, no ritual do Kuarup na aldeia Afukuri, em julho de 2021 - Takumã Kuikuro

A ideia da mostra começou com uma parceria entre o cineasta Takumã Kuikuro e o jornalista Guilherme Freitas, que assinam a curadoria da exposição. Em 2021, quando a demarcação do Parque Indígena do Xingu completou 60 anos, os dois gravaram o podcast "Xingu: Terra Marcada" para a rádio do IMS.

Na exposição que está em cartaz, os dois convidaram diretores e coletivos audiovisuais do território do Xingu que produziram os filmes que são exibidos em telas suspensas no sétimo andar do prédio. Os temas das produções são diversos. O Coletivo Kuikuro de Cinema, de que Takumã faz parte, por exemplo, fala das duas décadas em que tem atuado no território usando o cinema como ferramenta de luta.

Já o filme produzido por Divino Tserewahú, um dos pioneiros do cinema indígena no Brasil, reúne depoimentos sobre o papel do audiovisual na cultura xavante.

No mesmo andar, também estão reunidas obras que contam a visão de povos indígenas sobre o território e mostram a forma como eles escolhem se representar. Em contraponto, o oitavo andar abriga o material histórico majoritariamente produzido por pessoas não indígenas a respeito dessas populações.

Para Takumã Kuikuro, o diferencial da mostra é o fato de ela ter sido criada e pensada em conjunto com os indígenas. "Não é o olhar do branco, como já aconteceu em muitas exposições", afirma. Mesmo no caso dos arquivos de não indígenas, existe o contraponto de como determinadas situações registradas foram interpretadas pelas populações originárias.

Durante a curadoria, a dupla se deparou com arquivos produzidos por não indígenas que não contavam com a devida identificação. Para incluí-los na mostra, foi feito um trabalho na tentativa de localizar as pessoas registradas em fotos e incluir novas legendas nas obras.

Lado a lado estão a legenda original, catalogada pelo autor não indígena da fotografia, e a nova descrição, que leva o nome da pessoa fotografada. Um exemplo é a imagem de Utebrewe Xavante, que originalmente levava a legenda "índio xavante", sem o nome do homem que é uma importante liderança da etnia.

Utebrewe Xavante, 1949
Utebrewe Xavante, 1949 - Acervo Instituto Moreira Salles/Arquivo José Medeiros

Durante o trabalho de identificação dos arquivos, Freitas conta que, ao levar as fotos para os povos retratados, notou que, em muitos casos, eles nem conheciam as imagens. A ideia que teve, então, foi rever o acervo em conjunto com os povos originários para mostrar o que faltava na história contada apenas pelos não indígenas.

A palavra que compõe o título da exposição, "contatos", representa a tentativa de refazer o contato entre indígenas e não indígenas. Takumã defende que esse momento de interação acontece todos os dias e tem sido cada vez mais violento em relação aos povos indígenas.

A forma de defesa encontrada pelo diretor em 2002, quando ainda não falava português, foi representar sua realidade e a forma de ver o mundo pelo audiovisual. Ele conta que a ONG Vídeo nas Aldeias proporcionou seu primeiro contato com a câmera, objeto que ele considera a "flecha dessa jornada", como diz a frase que estampa a camiseta usada por ele durante a entrevista.

"Nossa luta através da exposição, através do audiovisual é trazer essa realidade para o povo que não conhece as nossas histórias. Queremos ser protagonistas da nossa própria história", diz Takumã.

Xingu: contatos

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