Exposição tem esculturas hiperrealistas de criaturas surreais; leia entrevista

De primeira, olhar para as criaturas de Patricia Piccinini pode causar desconforto. A artista, que nasceu em Serra Leoa e vive desde os sete anos na Austrália, parte de possibilidades genéticas para criar seres em escala real feitos de silicone, fibra de vidro e de outros materiais.

"Apesar do estranhamento, de serem figuras nunca vistas, você se reconhece nelas", comenta Marcello Dantas, responsável pela curadoria de "ComCiência", primeira mostra individual de Patricia no Brasil.

A exposição reúne a partir de segunda (12) cerca de 25 dessas criaturas no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Divididas em cinco núcleos, elas ocupam todos os andares -e cantos- do espaço, que também exibe vídeos, fotografias, pinturas e desenhos da artista.

Há esculturas como "The Long Awaited" (2008), na qual uma espécie de ancião com pés que se assemelham a barbatanas é abraçada por um menino, e "The Observer" (2010), uma das maiores, com três metros, traz um garoto que observa o mundo do alto de uma pilha de cadeiras inclinadas.

"Acho que Patricia aponta para um futuro não muito distante no qual teremos o poder de criar novos seres. Ela não oferece uma resposta ou uma moral, mas questiona até onde vamos", comenta Dantas.

Uma das criações de Patricia, um misto de baleia e tartaruga, irá sobrevoar, nesta segunda (12), às 16h30, o Vale do Anhangabaú. A atração celebra o Dia da Criança.

Confira entrevista com Patricia Piccinini.

CCBB - r. Álvares Penteado, 112, região central, tel. 3113-3651. Seg. e qua. a dom.: 9h às 21h. Abertura: 12/10. Até 4/1/2016. Livre. Estac. (R$ 15 p/ 5 h, na r. Sto. Amaro, 272 c/ serviço de van grátis até o CCBB). GRÁTIS


PATRICIA PICCININI, 50

GUIA - O que te levou a criar este universo?
Patricia Piccinini - Trabalho com essas ideias há 20 anos. Primeiro me interessei pelas promessas e decepções de pesquisas médicas e da tecnologia. Como artista, temo pelo destino do estranho e do diferente num mundo onde podemos "curar" tudo.

Suas figuras são uma forma de investigar o humano?
Com certeza. Uma coisa que é muito claro na pesquisa genética é que todo organismo da Terra está mais estreitamente relacionado do que imaginamos. Eu não acredito na ideia de que os seres humanos são fundamentalmente diferentes dos outros animais.

Acredita que as esculturas são uma forma do ser humano repensar seus preconceitos?
Sim. De alguma forma, vejo minhas criaturas como um símbolo das diferenças que encontramos enquanto pessoas na sociedade. Muitas vezes nós construímos outros seres humanos como "alienígenas" para justificar nossa xenofobia ou discriminação. Espero que o público se veja na estranheza de minhas criaturas, ou comece a ter simpatia por elas.

Você se lembra de alguma história de alguém que tenha visto suas exposições?
O que eu geralmente ouço é das pessoas que inicialmente estavam muito perturbadas ou desconfortáveis com as esculturas, mas aprenderam a amá-las. Eu amo a combinação de surpresa e encanto. Isso faz com que eu me sinta otimista sobre as pessoas e o mundo.

Gostaria que esse mundo criado por você se tornasse real?
Vai se tornar uma realidade, quer eu goste ou não. Não exatamente o que eu imagino, claro, mas na China você já pode comprar como animal de estimação uma "miniatura" fofa de porco geneticamente modificada. Essas coisas já estão acontecendo, é só uma questão de o quê e quando.

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