Frida Kahlo e mais 15 mulheres guiam mostra no Instituto Tomie Ohtake

O rosto de Frida Kahlo (1907-1954) estampa bolsas, camisetas e até imãs de geladeira. Ícone do feminismo, ela é lembrada por suas cores, suas sobrancelhas grossas e pelo drama de sua vida —o acidente em que fraturou a coluna, os abortos sofridos, a conturbada relação com o pintor Diego Rivera (1886-1957). "A figura de Frida é muito comercializada e, muitas vezes, acabam não focando sua obra e suas qualidades como artista", afirma a pesquisadora Teresa Arqc.

Teresa assina a curadoria de "Frida Kahlo - Conexões entre Mulheres Surrealistas no México", exposição que estreia no domingo (27) no Instituto Tomie Ohtake com a proposta de mostrar o contrário desta figura pop da artista.

Na mostra, Frida aparece como influência para 15 artistas surrealistas nascidas ou radicadas no México, como Remedios Varo, Alice Rahon, Jacqueline Lamba e Maria Izquierdo.


Cerca de cem obras compõem a exposição, sendo 20 telas e 13 desenhos em papel de autoria de Frida. Os outros itens expostos conectam, por meio de núcleos temáticos, a pintora e essas mulheres que conviveram com ela ou que se inspiraram em sua obra.

"Os únicos trabalhos que não são de mulheres estão em um contexto de recriar o mundo de Frida. Há, por exemplo, retratos realizados por Nickolas Muray, que foi seu amante", explica a curadora.

Para que você também compreenda o universo íntimo da pintura de Frida e das demais artistas, o "Guia" selecionou algumas obras e cinco eixos aos quais é importante ficar atento na hora de visitar a exposição.

R. Coropés, 88, Pinheiros, tel. 2245-1900. Ter. a dom.: 11h às 20h. Até 10/1/2016. Ingr.: R$ 10 (grátis p/ menores de 10 anos, e ter.). Ingr. p/ ingresse.com.


AUTORRETRATO

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Pintado por Frida Kahlo em 1943, "Autorretrato com Macacos" (foto) dá início à exposição. Na tela, a artista mexicana aparece cercada por quatro símios que, de acordo com a curadora, têm uma simbologia erótica com a roupa usada por Frida. "O retrato fala de seu amor pela vida e pelo México", diz. Os autorretratos são manifestações pictóricas muito utilizadas pelas artistas, que exploram sua identidade e seus mitos pessoais por meio deles. A mostra reúne cerca de dez autorretratos de Frida —ela chegou a pintar em torno de 55 durante sua vida. "As obras dessas mulheres têm um conteúdo mais íntimo, o que é universal. Qualquer um pode perceber a emoção que Frida representava: a dor, o erotismo, o vínculo com a família", afirma Teresa.


CONEXÕES

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A maior parte das artistas que compõem a exposição conheceram Frida Kahlo -outras se inspiraram nela. A francesa Alice Rahon pintou "Balada para Frida Kahlo" (1956; foto), que narra cenas de sua vida com Frida no México. "Alice, assim como Frida, teve poliomelite quando criança, mancava de uma perna e sofreu um acidente que a deixou imóvel por um ano", conta a curadora.


NÚCLEO FAMILIAR

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A conturbada relação entre Frida Kahlo e Diego Rivera serviu de inspiração para alguns quadros da artista, caso de "O Abraço de Amor do Universo, a Terra (México), Diego, Eu e o Senhor Xólotl" (1949; foto). Ao se retratar segurando Rivera como um bebê, Frida mostra como encarava o relacionamento. "Nas cartas, a atitude dela era de cuidar e atentar para que ele não adoecesse", comenta a curadora. Há também "Diego em Meu Pensamento" (1943; pág. 8). Nele, Frida pinta um autorretrato vestida de tehuana -as mulheres do istmo de Tehuantepec, no México, eram imponentes- e insere a imagem de Rivera no centro de sua cabeça. Algumas telas fazem referência ao espaço doméstico, caso da cozinha. Enquanto artistas como Frida e Rosa Rolanda usavam o local para festejar, outras, como Remedios Varo e Leonora Carrington, a viam como laboratório de criação.


NATUREZA MORTA

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Pintar era a conexão de Frida com a vida e o mundo. Quando estava confinada na cama, por conta das dores e das cirurgias na coluna, ela pintava. Muitos de seus quadros eram naturezas-mortas. No geral, as frutas apareciam abertas, com as polpas suculentas à mostra, de forma tentadora, o que pode ser relacionado ao sexo. Mas em outras, elas surgiam machucadas, evocando à sua própria dor. Ao andar pela exposição, procure "A Noiva que se Espanta ao Ver a Vida Aberta" (1943; foto), da própria artista. Há uma mesa com mamões e melancias cortadas e, ao fundo, uma boneca vestida de noiva: trata-se de uma lembrança de quando Frida viajou a Paris, em 1939, com a artista francesa Jacqueline Lamba. "Frida lavou o vestido da boneca, a vestiu novamente e guardou como uma recordação de Jacqueline, com quem teve uma relação de amizade e erótica", conta Teresa.


VISÕES DO CORPO

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Vale ficar de olho em "Desnudo (Frida Kahlo)" (1930; foto), de Diego Rivera. A litografia retrata Frida nua, sem qualquer imperfeição —ela tinha vários defeitos físicos, como uma perna mais fina e menor do que a outra e cicatrizes na coluna, por conta das cirurgias. "Geralmente, no surrealismo, os homens erotizavam o corpo feminino", conta Teresa Arcq. Já Frida e as outras artistas os pintavam diferente. "Há o corpo ligado à impossibilidade de a mulher ter a mesma liberdade que o homem, e também o corpo como lugar de criação", completa.


ALÉM DAS OBRAS
Programação de vídeos, instalação interativa e uma peça ajudam a conhecer melhor a vida e a obra de Frida Kahlo e outras surrealistas mexicanas

Vídeos e instalação
Quem quiser conhecer mais sobre as artistas participantes poderá acompanhar documentários que serão exibidos, na íntegra, ao longo da mostra: "A Vida e os Tempos de Frida Kahlo", "Remedios Varo", "Alice Rahon", "Jacqueline Lamba", "Leonora Carrington" e "Rara Avis" —filme sobre a artista Bridget Tichenor. Figurinos e adereços similares aos que Frida Kahlo usava, de influência indígena, também estarão expostos no instituto a partir do domingo (27). Já na segunda semana do evento, a partir de sábado (3), será possível conferir a instalação "La Casa Azul". A proposta é aproximar as crianças do universo da artista: uma projeção vai mostrar itens importantes de sua obra, enquanto espelhos fixados nas paredes vão refletir essas imagens.

Documentários - ter. a dom.: 11h às 20h. Abertura: 27/9. Até 10/1/16. GRÁTIS.
"La Casa Azul" - sáb. e dom.: 11h às 20h. Abertura: 3/10. Até 2/11. GRÁTIS


Frida Kahlo no teatro
A turbulenta e intensa relação entre Frida Kahlo e Diego Rivera é o pano de fundo de "Frida y Diego" (foto), que segue em cartaz até 4/10 no Teatro J. Safra. Na peça, José Rubens Chachá interpreta Rivera, enquanto Leona Cavalli dá vida ao ícone mexicano. O espetáculo, com texto de Maria Adelaide Amaral, mostra o embate entre os artistas -que tinham visões divergentes sobre política e sobre arte. O relacionamento, interrompido várias vezes, era pontuado por infidelidades. "Frida conseguiu transformar sua vida em sua própria obra. Viveu um sofrimento muito intenso e constante e sempre transformou tudo isso em arte", afirma Leona. A atriz conta que foram três meses de preparação para interpretar a artista, incluindo uma visita ao Museu Frida Kahlo, no México. "Ela conseguiu se transformar em sua própria revolução. Pintou de uma forma completamente única e autêntica, e isso me inspirou bastante."

Teatro J. Safra - r. Josef Kryss, 318, Barra Funda, região oeste, tel. 3611-3042. 633 lugares. Sáb.: 21h. Dom.: 19h. Até 4/10. Ingr.: R$ 40 a R$ 70. Estac. (R$ 15 - convênio) ou valet (R$ 25). Ingr. p/ 2122-4070 ou compreingressos.com.


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