Em novembro do ano passado, a artista francesa Gasediel, 44, expôs em São Paulo representações de obras clássicas ---como "Monalisa", de Leonardo da Vinci, e "As Meninas", de Velásquez-- com novos elementos e novas cores, remetendo à paisagem da capital paulista.
A partir desta quinta (7), ela apresenta novamente suas obras na mostra "Desloc'art". Desta vez, os protagonistas são os índios inseridos no cenário urbano da metrópole. "A ideia surgiu depois de pesquisas sobre a história do Brasil. Do desenho de Debret até as imagens do Carnaval", conta ao "Guia" a apaixonada pelo colorido das pinturas e dos adereços indígenas e das manifestações de street art.
Grafites, galpões abandonados, espaços depredados, ternos e guarda-chuvas estão entre os elementos expressos nas dez telas, em que Gasediel utilizou até massa corrida para recriar efeitos de muro da cidade.
Nascida em Nantes (oeste da França), ela se mudou para o Brasil por causa de compromissos profissionais do marido e, atualmente, reside em Moema (zona sul).
ABAIXO, LEIA ENTREVISTA COM A ARTISTA FRANCESA GASEDIEL:
Guia - Como surgiu a ideia de retratar índios em cenários urbanos?
Gasediel - O fio condutor do meu trabalho é tentar brincar com o contraste. A ideia surgiu depois de pesquisas sobre a história do Brasil. Do desenho de [Jean-Baptiste] Debret
até as imagens do Carnaval. Acabei me debruçando sobre os índios, que antes eu não conhecia. Os índios pertencem ao imaginário da sociedade, são considerados os donos da terra, os primeiros habitantes do Brasil. Eles sabem conviver com a natureza sem depreciá-la.
Já teve algum contato direto com tribos brasileiras?
Não. Não tenho contato com tribos indígenas brasileiras.
O que mais lhe atrai na paisagem urbana de São Paulo?
O que mais me atrai é a atmosfera brutal, metálica da cidade. Considero uma cidade difícil, mas mesmo assim você acaba gostando dela. A energia que sai das cores dos ônibus, orelhões, da publicidade e dos grafites espalhados pela cena urbana no meio do cinza compõe o que chamo de estética de rua de São Paulo. Eu me sinto atraída, também, pelas linhas da cidade, linhas verticais dos prédios e horizontais dos fios, por exemplo.
Há algum objetivo específico com este novo trabalho?
A partir da união dos universos indígena e urbano, eu tentei me aproximar de uma atmosfera absurda, que deixa mais uma sensação vaga de dúvida do que um sentido concreto de reivindicação.
Qual foi a maior dificuldade na hora de pintar?
O mais difícil foi encontrar uma forma de como representar os acessórios dos índios.
Consegue fazer uma comparação entre as obras da outra exposição e esta?
Existe uma ligação entre as duas exposições. Os galpões, os símbolos urbanos estão sempre no meio de meu trabalho. Lugares inóspitos onde eu gosto de colocar assuntos que não têm nada ver para brincar com o contraste.
Desloc'art - Galeria Hoc Die Design - r. Peixoto Gomide, 1.887, Jardins, zona oeste, São Paulo, SP. Tel.: 0/xx/11/3088-6141. 7 até 16/11. Qui. (7): 18h às 22h. Demais dias: 11h às 19h. Entrada grátis.
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