Lina Bo Bardi: conheça trajetória da arquiteta que desenhou o Masp

A partir de quarta (8), duas exposições no Sesc Pompeia lembram a arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992).

Reunindo na curadoria antigos colaboradores, elas se juntam a uma mostra em cartaz no Museu da Casa Brasileira e a uma outra que, a partir de 18/10, abre ao público a Casa de Vidro, residência de Lina e Pietro Maria Bardi (1900-1999).

Lina, que adotou nacionalidade brasileira em 1951, foi, acima de tudo, múltipla. Por isso, trazemos uma cronologia e um apanhado de feitos em áreas como design e cenografia.

Em seguida, explicamos as mostras que remontam sua trajetória, e, ao final, descrevemos alguns de seus feitos marcantes em São Paulo, como o Masp e o Teat(r)o Oficina .

Lina, que se definia como antifeminista e não raro empregava artigos e inflexões masculinas (como quando se chamava de "arquiteto"), escreveu certa vez: "Eu nunca quis ser jovem. O que eu queria era ter História".

Seu legado na arquitetura, nas artes plásticas e no design deixam claro: missão cumprida.


LINHA DO TEMPO

1914: Em 5 de dezembro, nasce Achillina Bo, em Roma.

1939: Lina se gradua na Faculdade de Arquitetura de Roma. O trabalho de conclusão cita a humanização das maternidades.

1940-1943: Atua em estúdios de arquitetura em Milão. A 2ª Guerra Mundial a afasta da arquitetura; atua em revistas, como "L'Illustrazione Italiana".

1946-50: Casa-se com P. M. Bardi. O casal vem ao Brasil. Assis Chateaubriand convida Bardi para fundar o 1º Masp, na rua Sete de Abril.

1951-55: Depois de projetar reformas na primeira sede do Masp, Lina se naturaliza brasileira. Constrói a Casa de Vidro e começa a lecionar na USP.

1957: Lina inicia o projeto da segunda (e atual) sede do Masp, na avenida Paulista; a obra seria inaugurada apenas em 1968.

1969: Inicia a colaboração com o diretor José Celso Martinez Corrêa e faz a mostra inaugural do Masp, "A Mão do Povo Brasileiro".

1977-82: Inicia restauro do Sesc Pompeia, inaugurado em 1982. Um ano antes, participa (e perde) de concurso para reforma do Vale do Anhangabaú.

1986-89: Faz projetos na Bahia, como a Casa do Benin. Eles se somam ao restauro do Solar do Unhão, de 1959, que passou a abrigar o MAM da Bahia.

1992: Lina morre em 20 de março na Casa de Vidro.


MÚLTIPLAS FACES

Arquiteta
Em São Paulo, Lina projetou espaços como a Casa de Vidro, o Masp, o Sesc Pompeia e o Teat(r)o Oficina (leia mais sobre os espaços nas págs. 12 e 13). No interior do Estado, a arquiteta realizou, por exemplo, o teatro Politeama, em Jundiaí. No resto do Brasil, destacam-se as intervenções de Lina em Salvador (BA).

Designer/Artista Plástica
Principalmente até os anos 1940, Lina produziu pinturas em guache e aquarela. Na época, ainda na Itália, ela começou a trabalhar com ilustrações, impelida pela intensificação dos bombardeios na 2ª Guerra Mundial, que impediam a realização de obras arquitetônicas. Lina também desenhou joias, principalmente colares e broches, e móveis, como o projeto da poltrona Bardi's Bowl. Além disso, atualizou a moda em São Paulo, trazendo para cá desfiles de estilistas europeus.

Cenógrafa/Figurinista
A arquiteta fez a cenografia de espetáculos como "Ópera de Três Tostões" (1960), de Bertolt Brecht, e dos filmes
"A Compadecida" (1968) e "Prata Palomares" (1970), dirigido por André Farias e José Celso Martinez Corrêa. Em outros, além da cenografia, Lina assinou também o figurino. É o caso de "Calígula" (1961), peça de Albert Camus dirigida por Martim Gonçalves, e de "Na Selva das Cidades", que marca o início de sua colaboração com o diretor
Zé Celso, do Teat(r)o Oficina.

Acadêmica/Professora
Entre outras atividades, Lina criou o Curso de Desenho Industrial no Instituto de Arte Contemporânea (órgão ligado ao Masp que precedeu o atual IAC), foi docente da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (1955-1957), período durante o qual produziu obras e pesquisas como "Contribuição Propedêutica ao Ensino da Teoria da Arquitetura" (1957). Também deu aulas de arquitetura e urbanismo na temporada que passou em Salvador (BA) no fim dos anos 1950.

Museógrafa
Um dos maiores focos de atuação de Lina foi o preparo de exposições, abraçando atividades hoje divididas em museografia (adequação das mostras à missão do museu), museologia (meios de conservação e viabilização de acervos) e expografia (a geografia das exposições). Alguns destaques de sua carreira em São Paulo:

  • "Agricultura Paulista" (1951), no parque da Água Branca;
  • "Trajes" (1951), no Masp -"Pela primeira vez um museu hospeda um desfile de moda; esta iniciativa procura abreviar a distância entre o museu-templo e a vida", disse Lina;
  • "Bahia no Ibirapuera" (1959), paralela à 5ª Bienal de SP;
  • "A Mão do Povo Brasileiro" (1969), mostra dedicada à cultura popular brasileira, que inaugurou o atual Masp;
  • "Design no Brasil - História e Realidade" e "O Belo e o Direito ao Feio" (1982), que estrearam o Sesc Pompeia;
  • "Caipiras, Capiaus: Pau-a-Pique" (1984), no Sesc Pompeia

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