Elas são quase todas iguais. Feiras de arte são territórios meio neutros, com paredes de drywall, lounges para os VIPs e colecionadores desfilando com taças cheias de champanhe diante dos galeristas.
Ocupando galpões, centros de convenções e armazéns fabris acarpetados espalhados pelo mundo, esses eventos viraram parte indispensável da economia de pinturas e esculturas e até das performances.
No ano passado, por exemplo, quase metade de todas as vendas de obras de arte no mundo aconteceram em feiras, e o calendário saturado delas ocupa todo o tempo de colecionadores mais vorazes em busca de safáris estéticos nos cantos remotos do globo.
Maior feira no sul do planeta, a SP-Arte não foge muito do padrão, mas causa certa comoção no circuito latino-americano, com uma avalanche de mostras, festas e jantares, e tem a seu favor uma bela vitrine —no lugar de um centro de convenções, ela ocupa o Pavilhão da Bienal, joia moderna do Ibirapuera.
Também tem por trás a força da maior metrópole do continente, que concentra as galerias mais poderosas da região. Nenhum museu deixa de fazer algo grandioso em paralelo e galeristas influentes nunca ficam de fora com certo receio de mandar um sinal de crise para o mercado.
Mas a crise também é real. Na montanha-russa brasileira dos últimos anos, com o Planalto em chamas e uma economia taquicárdica, galerias viram suas vendas minguarem e a SP-Arte também viu casas estrangeiras riscarem o Brasil de seus caderninhos.
Mas algumas estão voltando. Nos últimos tempos, com cada sinal de melhora das finanças do país, a feira ensaia uma recuperação. Além de criar uma ala de design, também engrossou sua oferta de palestras, performances e outras coisas menos vendáveis.
Nesse ponto, ela segue a estratégia de seus pares mundo afora, que entendem que a fórmula de shopping da arte está desgastada e que é preciso seduzir, além de colecionadores, críticos e curadores.
No ranking mundial, a SP-Arte virou um destino para quem se interessa por arte brasileira e parada obrigatória para galerias estrangeiras que querem entrar no mercado desse pedaço do mundo, embora não tenha o mesmo peso e escala que gigantes como a Art Basel e a Frieze, com eventos em Miami, Nova York, Londres e Hong Kong.
Nenhuma feira deve ser encarada como exposição, mas quem tiver fôlego para navegar pelos estandes no Pavilhão da Bienal, por exemplo, pode encontrar verdadeiras raridades ali que não costumam dar as caras nos museus do país, alguns deles batalhando para não fechar as portas nem sucumbir à censura em tempos turbulentos.
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