Veja entrevista com Giselle Beiguelman e vídeo de sua obra

Giselle Beiguelman gravou cenas do elevado Costa e Silva, o Minhocão. Editou os vídeos em programas considerados obsoletos e conseguiu efeitos que distorcem as imagens. O trabalho, intitulado "Cinema Lascado", fica exposto na Baró Galeria até sábado (22). Confira a entrevista que a artista concedeu ao Guia Folha e um trailer de seu vídeo:


Guia Folha - Como criou as imagens "riscadas" do filme?
Giselle Beiguelman - Eu gravei o Minhocão em cima e embaixo e, no trabalho, temos uma noção que nunca temos: conseguir andar no Minhocão em cima e embaixo ao mesmo tempo. As imagens foram captadas com uma câmera de vídeo em alta definição. E foram editadas em um programa muito antigo, de edição de gif animado, o primeiro formato de vídeo para a internet. Isolei os frames, coloquei cada um quadro a quadro dentro do programa em séries de 15 imagens. Eu tive que restaurar esse programa. Há anos eu queria trabalhar com isso, mas ele não funciona mais nos computadores hoje. Por milagre eu consegui restaurá-lo em um computador.

Guia - E como foi trabalhar com um editor obsoleto?
Giselle - É um editor obviamente muito tosco. E a imagem vinha com muita qualidade. E eu queria dar um efeito que ele não conseguia entender e ele começou a criar essas linhas de cores. Eu queria esticar imagem e ele esticou as cores. E eu comecei a gostar disso. Depois eu peguei todas as sequências e coloquei dentro de um programa de montagem de site e coloquei um script --que também é uma coisa bem antiga de internet-- para a página atualizar sozinha. Então ia de uma sequência de animação para a outra, para criar o filme. O programa não conseguiu ler as imagens e tirei proveito justamente desses erros.

Crédito: Fernando Godoy/Divulgação
A artista plástica Giselle Beigelman na Baró Galeria, espaço onde expõe sua videoinstalação "Cinema Lascado", sobre o Minhocão

Guia - Que tipo de dificuldade encontrou nesse processo?
Giselle - Eu terminei a parte de cima e estava com problemas na de baixo, porque o Minhocão é muito feio e tem problemas que sempre dá na captação de vídeo. O primeiro plano é muito escuro e o plano de fundo é muito claro. E queria fazer o mesmo efeito, mas pensei que seria legal se ele fosse ao contrário, de cima para baixo, coisa que o gif animado não faz. Então editei todas as imagens de ponta-cabeça.

Guia - Como trabalhou com o espaço da galeria?
Giselle - Essa projeção era para ser em um corredor, mas o espaço ficou muito pequeno. Só que a sala tem um pé-direito muito grande. E aí veio a ideia de colocar um vídeo em cima do outro. Agora estou fazendo uma série de frames para impressão. São capturas únicas, que nunca vão se reproduzir da mesma maneira.

Guia - Por que quis retratar o Minhocão?
Giselle - Acho que o Minhocão é uma cicatriz de São Paulo. E, ao mesmo tempo, que ele é a cara da cidade, que é uma das mais difíceis de se retratar, porque muita gente já fez imagens daqui, é tudo tão saturado. Agora, isoladamente, o Minhocão tem uma beleza. E, ao mesmo tempo, gosto de ver essas listras, como se a cidade estivesse chorando. Então pensei em fazer uma experiência que só é viável dentro do vídeo.

Guia - Quanto tempo demorou para terminar o trabalho?
Giselle - Peguei o Minhocão todo. Ida e volta. Eu tinha mais de quatro horas de vídeo, mas foram quase quatro meses de trabalho. Parece uma coisa tecnicamente resolvida, mas é o trabalho mais manual que já fiz.

Informe-se sobre o evento

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas

Ver mais