É bobagem ficar repetindo aqui que a Pixar é o principal estúdio de animação do mundo e o mais oscarizado, com clássicos atrás de clássicos há algumas décadas. Mas é inegável também que a empresa da Disney não é muito conhecida pelas sequências de seus filmes mais famosos.
A exceção, é claro, é “Toy Story”. A saga dos brinquedos chegou ao quarto título sem perder a magia e, mais difícil ainda, amadurecendo com seus espectadores sem soltar a mão das crianças —embora o quarto longa, de 2019, tenha desgastado um pouco a franquia.
Só que muito filmes nem sequer ganham um segundo capítulo. Como continuar “Wall-E”, qual é o próximo passo do velhinho de “Up - Altas Aventuras”, o que o ratinho de “Ratatouille” pode ainda fazer?
Nas tentativas de sequência, a Pixar geralmente escorrega na pista e perde os superpoderes —o que falar de “Os Incríveis 2” e da saga “Carros”?
Tudo isso para dizer que o estúdio e a Disney sentaram em cima de uma de suas maiores chances de continuação durante 20 anos: “Monstros S.A.”, filme de 2001. Até foi ensaiado um novo capítulo, em 2013, com “Universidade Monstros”. Mas trata-se de um flashback, mostrando os personagens principais, Sulley e Mike Wazowski, na faculdade, antes do primeiro longa.
A produção pouco empolgou, não foi indicada ao Oscar e viu “Frozen”, da Disney, se consolidar como fenômeno naquela temporada.
Desde então, a sequência de “Monstros S.A.” ficou quicando. No filme original, Sulley e Mike descobrem que as crianças não são tóxicas e que não é preciso assustá-las para transformar o choro e os gritos dos pequenos humanos em energia elétrica para o mundo dos monstros. É possível fazer isso com a risada delas
Mas e aí? Deu certo? As criaturas conseguiram se tornar engraçadas em vez de amedrontadoras? A fábrica pôde se adaptar ao novo modelo? Houve resistência dos que gostam mais de causar medo?
Essas perguntas começam a ser respondidas com a nova série “Monstros no Trabalho”, que estreou nesta quarta, dia 7, no Disney+. A produção retoma a história a partir do dia seguinte ao fim de “Monstros S.A.”, com Sulley e Mike sendo alçados à direção da indústria.
É preciso fazer treinamentos, enfrentar resistências, criar novos fluxos de trabalho e todas essas coisas chatas que adultos fazem todos os dias.
A ideia é ótima e introduz novos personagens. É o caso do protagonista Tylor, um novato assustador que terá que aprender a ser fofo, e da hiperativa Val. Já Boo, menina que rouba a cena no primeiro filme, não deve aparecer.
Mas algo não funciona no seriado. “Monstros no Trabalho” cai no mesmo erro contemporâneo de transformar tudo e qualquer coisa em série. Os dois capítulos disponíveis, que são 20% dos dez episódios, se arrastam, como se fosse preciso encher linguiça para sustentar a narrativa.
Para o espectador mais velho, parece que a história não sai do lugar. Já para os mais novos, a lentidão pode afastá-los. Com média de 30 minutos por capítulo, teremos cerca de cinco horas de monstros na versão 2.0. Um filme de uma hora e meia talvez tivesse acertado mais o alvo.
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